O sonho da maioria dos músicos no Brasil é assinar um contrato com uma gravadora. O experiente cantor e compositor Leoni vem na contramão do senso comum e argumenta baseado na sua experiência demonstrando as vantagens de ser um artista independente no Brasil.
Leoni está preparando seu novo EP "Parcerias", que deve ser lançado entre o final de junho e começo de julho. Composto por quatro músicas inéditas, uma regravação e uma surpresa, o projeto será comercializado apenas nos shows e em seu site oficial. Como o próprio nome diz "Parcerias" trará canções gravadas com seus amigos e parceiros, entre eles Ivan Lins. Quem comprar o trabalho na pré-venda, poderá além de adquirir o EP, poderá baixar as demos das faixas e também receber o disco físico em casa.
Engajado nas questões da categoria musical, Leoni participou da PEC da Música e acompanha de perto a Reforma de Lei do Direito Autoral.
Para quem gosta de uma boa música, a entrevista com o músico carioca é imperdível. Saiba a seguir das novidades do Leoni:
Kboing - No seu site você disponibiliza downloads de singles e lá também é possível encontrar letras de músicas, cifras e trechos em áudio. Como você analisa o papel da internet na divulgação do trabalho de um artista?
Leoni - Só existe música independente hoje por causa da internet. Antes da internet, você ser independente era como ser dependente do público porque não tinha como você chegar às pessoas. Os caminhos eram os mesmos, da rádio, televisão, revistas, que eram muito caros para divulgar nesses meios e normalmente dominados pelas gravadoras que praticam o tal do jabá. Para o artista independente era uma luta inglória.
A partir do aparecimento, primeiro do computador o artista passou a gravar e aí baratear muito o custo da gravação, o custo de distribuição. Já com a internet
a gente pode ter um acesso direto com nosso público, uma ponte que não precisa passar por ninguém. A internet veio salvar a música brasileira das garras das gravadoras que eram poucas no país e que lançavam cada vez menos artistas. Então boa parte da produção cultural brasileira pré internet estava à margem mesmo, sem encontrar a possibilidade de ter público. A internet é a grande salvação. Temos que nos concentrar todos os esforços em fazer um bom show e se comunicar com o público através da internet.
Kboing - Seu novo EP, "Parcerias" está disponível em pré-venda em seu site e ele não será vendido em lojas, apenas nos shows. Por que a escolha dessa forma de comercialização?
Leoni - Porque o último disco que eu lancei, "Noite Perfeita - ao vivo" (2010), eu fiz com uma distribuidora, que botava em lojas, fazia todo o esquema de distribuição... Eu descobri que eu vendia mais discos que a distribuidora, a maior parte das vendas do meu disco foi feita por mim, em shows e em pré-venda. Achei um desperdício porque eu acabo pagando muito para uma distribuidora, a gente paga, sei lá 60%, e o artista faz a maior parte do trabalho. Achei que esse era mesmo o caminho... que gente não precisa mais dessa rede de distribuição, até porque ela acabou... onde tem loja de CD? É uma coisa muito rara hoje em dia. Preferi eu mesmo fazer tudo.
Kboing - Elimina assim um intermediário, que neste caso, não oferece o retorno esperado...
Leoni - É, o retorno que ele dá é muito inferior ao que ele cobra. Então é melhor eu fazer direto, o público sabe onde encontrar o EP, que está sendo vendido no meu site. Quando tiver pronto com capa e tudo mais, essa venda ainda cresce mais um pouco e depois eu vou vendendo nos meus shows, porque as pessoas que vão aos shows querem o disco, querem um autografo... o disco acaba sendo uma lembrança de uma noite bacana.
Hoje as pessoas ouvem músicas no computador, no Iphone, no Ipod e o CD passou a ser uma coisa dispensável... vira mais uma lembrança, pra guardar aquilo como uma coisa querida, já não é o suporte para música.
Kboing - O EP chama "Parcerias". Como foi a escolha do repertório, dos artistas que colaboraram nesse projeto?
Leoni - Eu venho fazendo parcerias com muita gente diferente, que tem sido muito legal. Algumas dessas músicas foram lançadas pelos meus parceiros e outras eram parcerias que eu gosto muito e estava querendo divulgar. Esse será o primeiro de uma série de EPs dessas parcerias porque tem várias outras que não entraram. O projeto tem parcerias com artistas novos como o Móveis Coloniais de Acaju, que eu regravei "Dois Sorrisos", música que já tínhamos gravado juntos e que fez muito sucesso, com mais de 300 mil views do clipe; tem a canção "Nas Margens de Mim" com Fernando Anitelli e Daniel Santiago, d’O Teatro Mágico, uma banda que explora muito a divulgação por internet e através dos shows; Além de duas inéditas: "Pra Te Deixar Viver" parceria com Claudinho Moska e outra que me dá muito orgulho de ter feito minha primeira parceria com Ivan Lins, "Dezoito Mil Dias". O Ivan é meu ídolo de juventude, ele tem pouquíssimos parceiros e de repente ele abriu para escrever uma letra com melodia dele e eu quis muito gravar. Ah, vai ter uma surpresa que eu não gravei ainda e uma outra versão de "Pra Te Deixar Viver".
Kboing - No segundo EP, quais serão os artistas que irão entrar?
Leoni - Eu já fiz parcerias com outras pessoas que ainda não lancei como Zélia Duncan, o Dudu Falcão, o Vinicius Cantuaria, fora meus parceiros habituais como Frejat, Luciana Fregolente. Então eu quis começar com esse EP, depois solto um segundo de parcerias, um terceiro... para ir divulgando essas músicas recentes.
Kboing - Qual a previsão para que "Parcerias" esteja finalizado e já possa ser comercializado ?
Leoni - Acho que em junho, porque a capa já está sendo preparada. Assim que estiver pronta, mando fabricar e a fabricação leva uns 20 dias úteis, digamos um mês. Estará pronto no fim de junho, início de julho. Agora quem compra na pré-venda já pode baixar as músicas, não precisa esperar o disco pra ouvir... pode inclusive receber as demos que eu fiz pra mostrar as músicas pra minha banda.
Kboing - Em 1995, você lançou o livro "Letra, música e outras conversas", onde entrevistava e conversava com oito artistas consagrados de sua geração. No campo literário você tem algum outro projeto?
Leoni - Isso, é um livro de entrevistas sobre composição, eu entrevistei oito amigos, parceiros: Renato Russo, Herbert Vianna, Lobão, Frejat, Adriana Calcanhotto, Marina, Samuel Rosa e Nando Reis, sobre o processo criativo de cada um deles. Em 2010, lancei um outro que é o "Manual de Sobrevivência no Mundo Digital", um livro falando das minhas experiências com a internet. Nesse momento não tenho nenhum outro plano de lançar um livro, mas há sempre uma possibilidade, é uma coisa que eu gosto. Toma muito tempo e às vezes eu não tenho tempo pra isso, mas quem sabe um dia, daqui a pouco, eu lance um novo livro de poesias, ou de alguma coisa assim.
Kboing - Como é a sua 'relação' com a literatura? Quais são os autores que você gosta e eles chegam a influenciar no seu trabalho como músico e compositor?
Leoni - Me influenciam muito. Eu tenho na literatura uma de minhas maiores fontes para letras. Os autores depende da época, tem época que eu leio muito determinado tipo de autor, em outras eu mudo de estilo, fico meio obcecado por determinado autor, depois passa... Dos brasileiros contemporâneos, um dos meus prediletos é o Bernardo Carvalho e de poeta recente o Paulo Henriques Brito. Sempre releio Paulo Leminski, que é outro poeta que eu gosto muito. Romancista estrangeiro eu leio muito os americanos e os ingleses: Philip Roth, Nord Names, Paul Auster, são autores que eu gosto muito. Eu leio bastante e leio de tudo: filosofia, livro cientifico, romances....Eu gosto muito de ler.
Kboing - Você irá se apresentar na Virada Cultural em São José do Rio Preto, no próximo final de semana. Como você vê iniciativas como esta que oferece a população cultura de forma gratuita, que muitas vezes, de outra maneira algumas pessoas não poderiam apreciar?
Leoni - É uma das grandes maravilhas que pode acontecer para um artista e para o população, que é o governo tornar democrático o acesso à cultura. É muito bom este tipo de evento, porque muita gente que não teria acesso a diversos shows pode assistir artistas que nem sonharia em ver. Vale a pena também porque, além dos shows, é uma maratona de outras atividades na cidade. Fico muito feliz, quando as prefeituras e os governos estaduais e federais resolvem proporcionar isso ao público. Eu adoro participar desses eventos.
Kboing - O que o público pode esperar em seu show nessa Virada?
Leoni - Meus shows se adaptam muito ao público local. Como esse será um show aberto, eu pretendo tocar mais músicas conhecidas do grande público. Porque meu público específico, que me segue na internet, no meu site, Twitter, etc, estão ligados na minha produção recente. Toda a vez que eu faço enquetes no meu site para saber o que eles querem que eu toque, 90% é de músicas lançadas de 2002 pra cá. Mas eu sinto que o grande público conhece muito mais meu trabalho com o Kid Abelha, Heróis da Resistência, meu trabalho do milênio passado (risos) e eu tenho que equilibrar isso, não posso agradar só o meu público porque tem gente que nunca me viu... É bom ter essas músicas conhecidas que fazem uma ponte com as pessoas. Eu tento equilibrar minha produção recente com o sucesso que o grande público conhece para que seja um show cantado do começo ao fim, para que as pessoas participem.
Kboing - Quais são as canções que não podem faltar em seu show?
Leoni - Para o grande público seria "Garotos II", se não tocar essa música parece que não foi um show meu e para as pessoas que me seguem pela internet é "Temporadas da Flores".
Kboing - E quais releituras de outros artistas que você gosta de fazer?
Leoni - Eu quase não faço. É uma raridade mesmo, normalmente eu toco minhas canções. Já toquei algumas, muito poucas, eu fiz uma versão do músico Bob Dylan, "Shooting Star", que traduzi para "Um Cometa". E de vez em quando eu toco "Quase Um Segundo", dos Paralamas do Sucesso, que é uma música que eu adoro, que quando me dá vontade eu faço voz e violão dela. Gostaria de ter composto essa canção!
Kboing - Além do lançamento do EP, quais são seus projetos para este ano?
Leoni - Ah sempre tem. Agora é lançar o "Parcerias" e eu faço também palestra, sobre rock e filosofia, música e internet. Participo de atividades da minha classe, como a PEC da Música, Reforma de Lei do Direito Autoral... estou sempre participando dessas coisas. Faço também shows com outros artistas. Projetos têm bastante, a minha ideia é lançar esse EP e daqui a pouco um segundo EP, com outras parcerias. O bom da internet é que as coisas agora ficaram bem mais fáceis de serem realizadas. Antigamente, era "vou gravar um disco", aí negocia com a gravadora, então daqui a seis meses você entra em estúdio pra gravar o disco, leva mais dois, três meses para produzir, ai a gravadora diz: "nesse mês não porque eu vou lançar não sei o que", quando vê já passou um ano e você não conseguiu gravar nada. Atualmente, se eu tiver uma música amanhã que eu acho muito boa, eu lanço independente. Agora, eu vou lançar uma música até o meio do ano ou início do segundo semestre que é do concurso de composição que está rolando no meu site oficial. Depois que essa música estiver pronta, eu vou lançar como single, independente do EP. Eu vou estar sempre lançando coisas, porque eu produzo muita música. Acabei de fazer uma música para o Vinicius Cantuaria para o CD dele. Projetos não faltam, nenhum amarrado no momento, mas novidades vêm sempre no caminho.
Kboing - Deixe um recado aos fãs que curtem suas músicas no Kboing.
Leoni - Alô galera ligada no Kboing, eu sou o Leoni e como vocês estou por aqui. Não deixem de vir aqui nunca, a gente se encontra sempre. Um abraço.