Eu queria morar numa favela!
Eu queria morar numa favela!
Eu queria morar numa favela!
O meu sonho é morar numa favela
Eu me chamo de cheroso como alguém me chamou
Mas pode me chamar do que quiser seu dotô
Eu num tenho nome,
Eu num tenho identidade,
Eu num tenho nem certeza se eu sou gente de verdade!
Eu num tenho nada,
Mas gostaria de ter
Aproveita seu dotô e D
á um trocado pra eu comer...
(falado)
"Que trocado o que?
Não tem vergonha nessa sua cara suja, não?!
Vai trabalhar, oh, vagabundo!"
Eu gostaria de ter um pingo de orgulho
Mas isso é impossivel pra quem come o entulho
Misturado com os ratos e com as baratas
E com o papel higiênico usado nas latas de lixo
Eu vivo como um bicho ou pior que isso
Eu sou o resto,
O resto do mundo
Eu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundo
Eu sou... Eu num sou ninguém
Eu tô com fome
Tenho que me alimentar
Eu posso num ter nome, mas o estômago tá lá
Por isso eu tenho que ser cara-de-pau
Ou eu peço dinheiro ou fico aqui passando mal
Tenho que me rebaixar a esse ponto,
Porque a necessidade é maiordo que a moral
Eu sou sujo, eu sou feio, eu sou anti-social
Eu num posso aparecer na foto do cartão postal
Porque pro rico e pro turista eu sou poluição
Sei que sou um brasileiro
Mas eu não sou cidadão
Eu não tenho dignidade ou um teto pra morar
E o meu banheiro é a rua
E sem papel pra me limpar
Honra?
Não tenho
Eu já nasci sem ela!
E o meu sonho é morar numa favela
Eu queria morar numa favela!
Eu queria morar numa favela!
Eu queria morar numa favela!
O meu sonho é morar numa favela
A minha vida é um pesadelo e eu não consigo acordar
E eu não tenho perspectivas de sair do lugar
A minha sina é suportar viver abaixo do chão
E ser um resto solitário esquecido na multidão
Eu sou o resto,
O resto do mundo
Eu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundo
Eu sou... Eu num sou ninguém
Frustração
É o resumo do meu ser
Eu sou filho da miséria e o meu castigo é viver
Eu vejo gente nascendo com a vida ganha e eu não tenho umachance
Deus! Me diga por quê?
Eu sei que a maioria do Brasil é pobre
Mas eu num chego a ser pobre
Eu sou podre!
Um fracassado,
Mas, não fui eu que fracassei
Porque eu num pude tentar
Então, que culpa eu terei
Quando eu me revoltar
Quebrar, queimar, matar
Não tenho nada a perder
Meu dia vai chegar
Será que vai chagar?
Mas, por enquanto
Eu sou o resto...
O resto do mundo!
Eu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundo
Eu sou o resto do mundo
Eu num sou ninguém,
Eu num sou nada,
Eu num sou gente,
Eu sou o resto do mundo!
Eu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundo
Eu sou o resto,
Eu num sou ninguém!
Eu num sou registrado
Eu num sou batizado
Eu num sou civilizado
Eu num sou filho do Senhor
Eu num sou computado
Eu num sou consultado
Eu num sou vacinado
Contribuinte eu num sou
Eu num sou comemorado
Eu num sou considerado
Eu num sou empregado
Eu num sou consumidor
Eu num sou amado
Eu num sou respeitado
Eu num sou perdoado
E também sou pecador
Eu num sou representado por ninguém
Eu num sou apresentado pra ninguém
Eu num sou convidado de ninguém
E eu num posso ser visitado por ninguém
Além da minha triste sobrevivência
Eu tento entender a razão daminha existência
Por quê que eu nasci?
Por quê tô aqui?
Um penetra no inferno sem lugar pra fugir
Vivo na solidão mas não tenho privacidade
E não conheço a sensação de ter um lar de verdade
Eu sei que eu não tenho ninguém pra dividir o barraco comigo
Mas eu queria morar numa favela amigo
Eu queria morar numa favela!
Eu queria morar numa favela!
Eu queria morar numa favela!
O meu sonho é morar numa favela!
compositores: GABRIEL CONTINO
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