Quando ele nasceu
foi no sufoco
Tinha uma vaga, um burro e um louco
que recebeu seu sete
Quando ele nasceu
foi de teimoso
com a manha e a baba do tinhoso.
Chovia canivete
Quando ele nasceu
nasceu de birra
Barro ao invés de incenso e mira,
cordão cortado com gilete
Quando ele nasceu
sacaram o berro,
meteram faca, ergueram ferro
Exu falou: Ninguém se mete!
Quando ele nasceu
Tomaram cana, muita cana
um partideiro puxou samba
Aí Oxum falou: esse aí promete!
Promete! Oxum falou: esse promete!
Promete! Oxum falou: esse promete!
Promete! Oxum falou
Promete! Oxum falou
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca, é coisa dos home
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca, é coisa dos home
A raiva dá pra parar, pra interromper
A fome não dá pra interromper
A raiva e a fome é coisas dos home
A fome tem que ter raiva pra interromper
A raiva é a fome de interromper
A fome e a raiva é coisas dos home
É coisa dos home
É coisa dos home
A raiva e a fome
Mexendo a cuíca
Vai tem que roncar
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca, é coisa dos home
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca, é coisa dos home
A raiva dá pra parar, pra interromper
A fome não dá pra interromper
A raiva e a fome é coisas dos home
A fome tem que ter raiva pra interromper
A raiva é a fome de interromper
A fome e a raiva é coisas dos home
É coisa dos home
É coisa dos home
A raiva e a fome
Mexendo a cuíca
Vai tem que roncar
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca, é coisa dos home
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca, é coisa dos home
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca, é coisa dos home
Roncou, roncou
Roncou de raiva a cuíca
Roncou de fome
Alguém mandou
Mandou parar a cuíca, é coisa dos home
O menino cresceu entre a ronda e a cana
Correndo nos becos que nem ratazana.
Entre a pulga e o afano, entre a carta e a ficha
Subindo em pedreira que nem lagartixa.
Borel, juramento, urubu, catacumba,
Nas rodas de samba, no eró da macumba.
Matriz, querosene, salgueiro e turano,
Mangueira, são carlo, menino mandando,
Ídolo de poeira, marafo e farelo,
Um Deus de bermuda e pé-de-chinelo,
Imperador dos morros, reizinho nagô,
O corpo fechado por babalaôs.
Ídolo de poeira, marafo e farelo,
Um Deus de bermuda e pé-de-chinelo,
Imperador dos morros, reizinho nagô,
O corpo fechado por babalaôs.
Baixou oxolufã com as espadas de prata,
Com sua coroa de escuro e de vício.
Baixou cão-xangô com o machado de asa,
Com seu fogo brabo nas mãos de corisco.
Ogunhê se plantou pelas encruzilhadas
Com todos seus ferros, com lança e enxada.
E oxossi com seu arco e flecha e seus galos
E suas abelhas na beira da mata.
E oxum trouxe pedra e água da cachoeira
Em seu coração espinhos dourados.
Iemanjá, o alumínio, as sereias do mar
E um batalhão de mil afogados.
Iansã trouxe as almas e os vendavais,
Adagas e ventos, trovões e punhais.
Oxum-maré largou suas cobras no chão.
Soltou sua trança e quebrou o arco-íris.
Omulu trouxe o chumbo e o chocalho de guizos
Lançando a doença pra seus inimigos.
E nana-buruquê trouxe a chuva e a vassoura
Pra terra dos corpos, pro sangue dos mortos.
Babalaôs
Babalaôs
Babalaôs
Babalaôs
Babalaôs
Babalaôs
Exus na capa da noite soltaram uma gargalhada
E avisaram a cilada pros orixás.
Exus, orixás, menino, lutaram como puderam
Mas era muita matraca pra pouco berro.
(Ai, ai, ai, ai, ai ai ai ai ai aiii)
E lá no horto maldito, no chão do pendura-saia,
Zumbi menino lumumba tomba da raia
Mandando bala pra baixo contra as falanges do mal,
Arcanjos velhos, coveiros do carnaval.
(Ai, ai, ai, ai, ai ai ai ai ai aiii)
- Irmãos, irmãs, irmãozinhos,
Por que me abandonaram?
Por que nos abandonamos
Em cada cruz?
- Irmãos, irmãs, irmãozinhos,
Nem tudo está consumado.
A minha morte é só uma:
Ganga, lumumba, lorca, Jesus
Grampearam o menino do corpo fechado
E barbarizaram com mais de cem tiros.
Treze anos de vida sem misericórdia
E a misericórdia no último tiro.
Morreu como um cachorro e gritou feito um porco
Depois de pular igual a macaco.
Vou jogar nesses três que nem ele morreu:
Num jogo cercado pelos sete lados.
(?)
(Undê cundá cadê cuncun dê)
Nas escadas da Penha
Penou no cotoco da vela
Velou a doideira da chama
Chamou o seu anjo-de-guarda
Guardou o remorso num cantou
Cantou a mentira da nega
Negou o ciúme que mata
Matou o amigo de ala.
Tá lá
Tá lá o valete
No meio das cartas
No jogo dos búzios,
Tá lá no risco da pomba,
No giro da pomba,
No som do atabaque,
Tá lá.
E tá no cigarro, no copo de cana
Na roda de samba, tá lá
Nos olhos da nega na faca do crime
No caco do espelho no gol do seu time...
Tá lá o amigo de ala
O amigo de ala
Matou o ciúme que mata
Negou a mentira da nêga
Cantou o remorso num canto,
Guardou o seu anjo-de-guarda,
Chamou a doideira da chama,
Velou no cotoco da vela
Nas escadas da Penha
Penou no cotoco da vela
Velou a doideira da chama
Chamou o seu anjo-de-guarda
Guardou o remorso num cantou
Cantou a mentira da nega
Negou o ciúme que mata
Matou o amigo de ala.
Tá lá
Tá lá o valete
No meio das cartas
No jogo dos búzios,
Tá lá no risco da pomba,
No giro da pomba,
No som do atabaque,
Tá lá.
E tá no cigarro, no copo de cana
Na roda de samba, tá lá
Nos olhos da nega na faca do crime
No caco do espelho no gol do seu time
Nas escadas da Penha...
compositores: Aldir Blanc,João Bosco
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