Quem já cruzou na noite distâncias largas
E viu a querência inteira sumir no breu
Precisa a graxa do trevo das invernadas
Cogote duro do pingo para a jornada
E o tino de achar no escuro o que se perdeu
Quem já encilhou em noite de tempo feio
E não achou suas estrelas formando cruz
De nada adianta guiar a perna do freio
No mundo das sombras grandes, cavalo e arreio
São cegos da madrugada tateando a luz
Quem ganha a boca da noite jamais esquece
De haver sido um dos assombros que a noite tem
Talvez seja um destes vultos que assustam ranchos
Quem sabe um morcego a mais em asas de poncho
Alados mas prisioneiros que o sol não vêem
Hay hora na noite grande que o vento pára
E vira o mundo perdido na escuridão
É o mesmo tempo que a voz da macega cala
O pingo senta de susto arrastando a mala
E a gente chega a se tocar com a solidão
Cruzar o passo da noite, rever querência
Tranquear com a vida nos bastos, surgir do breu
É reencontrar estrelas num céu de ausências
Juntar pedaços do mundo das benquerenças
É o tino que achar no escuro o que se perdeu!
compositores: Luiz Marenco,Sérgio Carvalho Pereira
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