12 de outubro de 2001, dia das crianças. varias festas espalhadas na periferia, do parque sr. antônio hoje teve uma festa. que foi bancada pela irmandade, uma organização que ta confeccionado roupa lá no parque são antônio, lutando, remando contra a maré mais ta lá, ta firme.
Tinha umas 300 pessoas na festa das crianças, comida, musica, tinha um grupo de rap de uma menininha de 10 anos cantando muito.
Ai saímos de lá avoado, em outra quermesse de rua na também vila santa catarina, no outro lado da zona sul, quase no centro.
E chegando lá a festa não tinha começado ainda, ai no caminho passamos numa favela assim, e trombamos uns molequinhos jogando bola e começamos a provocar:
-ai moleque tu é santista tal?
-não, eu sou corinthiano.
-ai Marcelinho vai arrebentar vocês.
Os moleque começou a vir naquela ideia de jogo.
Ai eu comecei a pesar na dos moleques:
-eai? ta estudando tal?
Ai o moleque falou assim:
-esse aqui hoje xingou a mãe dele.
Ai eu falei:
-por que você xingou sua mãe?
-ahhh porque...
Não nem foi isso, eu falei assim:
-vocês ganharam presente? – eu perguntei não foi não neto?
-eu ganhei foi tapa na cara hoje.
-porque você tomo tapa na cara?
-ahhh porque minha mãe me deu um tapa na cara,
foi isso que eu ganhei não ganhei presente não.
Falou assim bem convicto, veio.
Ai eu falei assim:
-por que você tomo tapa na cara?
-porque eu xinguei ela.
-mais por que você xingou?
-ah é lógico todo mundo ganhou presente eu não ganhei por que?
Ai eu fiquei pensando né mano, como uma coisa gera a outra, isso gera um ódio, um moleque de 10 anos toma um tapa na cara no dia das crianças. eu fico pensado quantas mortes, quantas tragédias, em família o governo já não causou, com a incompetência, com a falta de humanidade, quantas pessoas não morreram: de frustração, de desgosto, longe do pai da mãe dentro da cadeia, por culpa da incompetência desses ai entendeu?
Que fala na televisão, fala bonito, come bem, forte, gordo , viaja bastante, tenta chamar os gringo aqui pra dentro, enquanto os próprios brasileiros tão ai jogado no mundão do jeito que o mundão vier, sem nenhum plano traçado, sem trajetória pra viver na vida.
E o moleque era mó revolta, vai vendo e ele tava friozão jogando bola, como se nada tivesse acontecido. ali marcou pra ele, talvez ele tenha se transformado em uma outra pessoa naquele dia.
Vai vendo o barato, dia das crianças.
compositores: Mano Brown
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