Quando tiver sessenta
Que os meus olhos funcionem bem
E eu, estando só,
Busque os meus netos na escola
Que seus sorrisos me lembrem que eles
São a fortuna que acumulei
Nossas visitas ao asilo sejam apenas para ver os quadros dos que lá moraram
Porque os meus amigos estarão comigo
Jogando suas redes no rio
Proseando sobre como a nostalgia sempre esteve em alta
Com anos de atraso
Mas aí me lembro:
Rapaz, você ainda tem trinta e três
E seu mundo ainda é aquele
Onde as filas por um rim dão as
Suas voltas no continente
Que anda quente demais,
Exceto dentro do carro com vidros fechados
Porque, se abertos, tudo pode acabar
Ali num assalto
Se eu chegar até lá
Que possamos ser mais médicos e menos juízes
E, ao estarmos num semáforo
Que não seja pra pedir dinheiro,
Mas para dar abraços
Distribuir adesivos dizendo: 'é natal,
O rei nasceu e um cobertor também salva!'
Entenderemos que deus
É pai e filho ao mesmo tempo. E bastará.
Perceberemos que são os nossos irmãos
Que estão ali com frio na rua
Enquanto permanecemos aqui
Salvos e aquecidos
Com nossas lareiras
Mas aí me lembro: rapaz você está nos trinta
E grito: 'tempo, pare um pouco
Para eu respirar!
Ainda não consegui
Ser a metade do que deveria ser!'
Então ele me diz: 'você continua um sonhador
Que ainda sonha que tudo mude
Quando tiver sessenta'
compositores: GUILHERME DE SA
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