Em tempos que se respira Copa do Mundo, muito se fala em manifestações, busca por direitos, luta contra o racismo, miséria, homofobia e tantas outras situações que distorcem a vida da sociedade, eles cutucam um pouco mais e tentam tirar a peneira do sol.
Não é de hoje que a banda Titãs 'bota o dedo na ferida' e fala através dos versos de suas canções o que muitos não querem enxergar. O novo disco então... huummm... "NHEENGATU" foi lançado no início deste mês, trouxe 14 faixas que navegam na ideia da Torre de Babel e entre trechos como "Você também é explorado. Fardado. Você também é explorado!" e "Cansei da fome, do crack, da miséria e da cachaça. Cansei de ser humilhado", o grupo faz a sua parte para quem sabe chacoalhar os adormecidos.
Kboing – Por que a escolha "NHEENGATU", qual o significado?
Tony Belloto: Nheengatu é a língua geral compilada pelos jesuítas no século XVII, para que portugueses e índios pudessem se entender. Quase tudo o que conhecemos de tupi guarani hoje em dia, é Nheengatu.
Kboing – Não é de hoje que o repertório de vocês vem repleto de letras que falam sobre temas atuais discutidos por um e ocultados por outro. O novo disco chega nessa pegada ou está um pouquinho mais "ácido"?
Tony Belloto: Está bem mais ácida a pegada desse CD. Porrada!!!
Kboing – A propósito, como foi a produção de "NHEENGATU"?
Tony Belloto: Trabalhamos por anos, depurando as músicas, letras e o conceito. Queríamos fazer um disco pesado de rock, mas que contivesse elementos de brasilidade. E assim acabamos optando por falar do Brasil atual nas letras. Na hora de gravar, convidamos um jovem produtor de rock, que vem se destacando, o Rafael Ramos.
Kboing – A música, talvez ao contrário de um discurso imposto, fica na mente refletindo no inconsciente por dias. Hoje é mais fácil passar uma mensagem ou o volume constante de informação é mais prejudicial?
Tony Belloto: É paradoxal, concordo. Existe mais facilidade de trânsito de comunicação, mas por outro lado, existe um tremendo congestionamento de informação. O importante é fazer coisas boas, com personalidade e relevância. Essas coisas se destacam naturalmente da grande massa de informação.
Kboing – Se pudessem escolher uma música deste disco para representar a atual fase do Brasil, qual seria e por quê?
Tony Belloto: Escolhemos as 14. As que estão gravadas! Uma música só não tem a capacidade de representar tamanha complexidade.
Kboing – E a fase em que o rock se encontra? Como descreveriam? Ele perdeu um pouco de sua essência e se tornou 'modinha'?
Tony Belloto: Ele perdeu um pouco da característica de contestação. Não é que virou "modinha". Mas está meio popão, meio gorducho, tipo Elvis em Las Vegas. Quem mete o dedo na ferida, atualmente no Brasil, são os rappers. Eles são os verdadeiros rockers.
Kboing – O público pode esperar uma turnê deste disco para quando?
Tony Belloto: A partir de agosto, tão logo a Copa acabe, e antes que se iniciem as campanhas eleitorais…
Kboing – Quais os projetos para os próximos meses?
Tony Belloto: Levar o Nheengatu para a estrada, divulgá-lo em rádios, tv e jornais. Guerrilha!
Kboing – Deixe um recado para a galera que curte o trabalho de vocês.
Tony Belloto: Kboing! Nheengatu! Uhul!