Nascido no Rio de Janeiro, influenciado por mitos da música como Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan, na estrada há quase 20 anos, instrumentista de nomes de sucesso como Cidade Negra, Farofa Carioca, banda que também contava com Seu Jorge, e Elza Soares, Caesar Barbosa, que está prestes a lançar seu álbum solo, bateu um papo com a redação da Kboing e contou um pouco desta trajetória musical de se tirar o chapéu.
Durante a conversa, o músico e produtor contou detalhes de suas inspirações, como a poesia e o amor fazem parte de suas composições e o que é uma verdadeira relação com o público. Barbosa também revela detalhes de parcerias com outros músicos, das viagens feitas durante o ano para produções musicais e muito mais!
Então, amigo leitor, dê o play no link abaixo, confira a novidade musical do artista, "Assim Se Escreve", e leia este bate-papo que, empresto um termo muito usado por Barbosa para descrever, foi visceral!
Kboing: Bom, Caesar Barbosa, já são quase 20 anos na estrada, não é mesmo?
Caesar: Pois é, é isso mesmo. O tempo passa rápido demais. Parece que foi ontem que viajava em turnê acompanhado pelo meu irmão por ser menor de idade.
Kboing: Como foi transcender de musico de muitos artistas para assumir o papel de artista solo?
Caesar: Sobre ser músico e artista solo, eu transito bem entre os dois universos. O caso de amor com a música só muda de foco. Quando trabalho como músico ou produtor musical para outros artistas e bandas, o foco é voltado para o material deles. Procuro mergulhar e pesquisar muito sobre o que querem. Acaba virando uma escola, onde a troca de aprendizado entre todos nós é muito profunda. Já quando eu assumo o papel de artista solo, o caso de amor vira meu. É o momento que me julgo e me corrijo. Muitas vezes eu me surpreendo comigo mesmo. As ideias surgem e é lindo vê-las tomando forma física e sendo executadas. Não adianta pensar em fazer algo e não fazer.
Kboing: Até que ponto toda essa mistura reflete hoje na sua vida?
Caesar: A música é "A" caminhada da minha vida. Tudo que fiz e ganhei na vida foi a música que trouxe de recompensa. Pelo fato de ser carioca, mas de família nordestina da Paraíba, a música sempre foi muito presente por conta das reuniões de família regadas a rodas de violão. O Rio, por ser uma cidade que recebe gente de culturas de todo o mundo, cria essa interação inevitável entre todas as artes, discursos, e visões. O carioca gosta de interagir e agregar, o que facilita esses encontros que rendem trocas incríveis. Eu sou desse jeitão carioca. Eu amo isso!
Kboing: Como é olhar para trás e entender essa caminhada?
Caesar: Tenho a consciência que hoje sou mais experiente que ontem e amanhã serei mais experiente que hoje. A certeza disso é que sou movido a desafios, curiosidades e amor ao que faço. Pelo fato de ter trabalhado com muitos músicos e artistas de diferentes estilos, a bagagem só aumentou e a experiência no meio musical também. Sempre fui o caçula das bandas que passei e, muito por isso, fui acarinhado e acolhido, sendo grande amigo de todos. Essa atmosfera de zelo e amor que venho tendo em toda minha carreira, gerou e gera uma energia boa, que por sua vez só atrai mais energia boa.
Kboing: Como é o seu contato com público? Qual retorno que este público te dá – seja pessoalmente ou pela internet?
Caesar: Meu público é de um amor e admiração que me emocionam. A cada dia recebo demonstrações de carinho que só me inspiram a trabalhar mais e mais para eles. Recebo muitos presentes pelo correio e nos shows. Até pedidos de casamento (risos)!
Nas redes sociais sou muito ativo e faço questão de separar um tempinho para responder a todos. Nos shows faço questão de tirar fotos com todos e em troca dou de presente minha palheta personalizada, que mando fazer para eles, seguido de um abraço forte e sincero. Nas ruas e aeroportos também faço o mesmo.
Kboing: E para você, o que estes fãs significam?
Caesar: O mundo precisa de amor. Amor ao próximo. Temos ter a consciência que cada indivíduo tem sua "biografia" e merece ser respeitado. O respeito vem do desejo de ver um mundo melhor. Essa consciência só vem em momentos difíceis da vida ou quando perdemos alguém e olhamos o que poderíamos ter dito a aquela pessoa que partiu para outro plano. Nunca passei por algo assim, mas já presenciei muito. Ame hoje e respeite hoje. Todos eles têm histórias de vida. Eu os amo verdadeiramente, sem hipocrisia. Eles também fazem parte de mim. Simples de entender.
Kboing: Onde você tira inspiração para música?
Caesar: Minha inspiração vem de situações que vivi e situações que presenciei com amigos e conhecidos. Posso dizer que sou um observador. Vejo as situações como um roteiro de um filme. Observo e já imagino o barulho do lápis arrastando no papel com as palavras compondo as histórias. Acho que esse olhar se deve aos meus pais. Num rápido resumo, meus pais se conheceram e namoraram por cartas. Praticamente, eles só foram se encontrar pessoalmente no altar da igreja. São casados e amantes até hoje. Uma história linda de amor que já está sendo roteirizada para os cinemas. As histórias caem como um raio na cabeça para que eu escreva.
Kboing: Além daquilo que te influencia, quais os estilos musicais que você gosta, busca pesquisar e conhecer?
Caesar: "Sou blueseiro, roqueiro, fanqueiro, brasileiro!" Tá vendo? Já nasceram versos dessa entrevista (risos). A realidade é que tudo me influencia, tenho essa sensibilidade aflorada para "pescar" inspirações em qualquer situação ou lugar. A música bate na alma com uma força descomunal. Ultimamente tenho escutado muito os lançamentos da Anoushka Shankar. Estou aberto para ouvir de tudo, me julgo um músico/produtor de world music, não quero me prender a um estilo. Quero fazer música para pessoas. Sem distinção de gêneros.
Kboing: Tem algo ainda a ser alcançado como artista – ou como pessoa - que você não conquistou?
Caesar: Sempre haverá algo para descobrir e evoluir. Acredito que fazemos com as nossas buscas e trabalho a evolução de um novo mundo. Eu não costumo pensar no que eu não conquistei. Eu penso nas coisas que preciso trabalhar para conquistar e tudo isso é questão de tempo. Se você quer de verdade e trabalha para isso, as coisas que "não conquistou" irá conquistar. Dificuldades existem, mas elas servem para nos dar mais experiência para chegar aos nossos objetivos. Tudo isso com muita tranqüilidade, sem forçar a barra. As coisas acontecem naturalmente e elas são como são. Não me preocupo muito com isso. Eu apenas trabalho todos os dias, dando o meu melhor. Não tem como controlar o futuro. Tudo pode acontecer.
Kboing: Quanto ao ano de 2016, qual a retrospectiva de Caesar Barbosa? Quais foram os feitos neste ano?
Caesar: 2016 foi um ano maravilhoso! Com Cidade Negra, tive duas turnês: nacional e uma pelos Estados Unidos. Os show são sempre calorosos. Acompanhar Toni Garrido, Lazão e Bino é uma honra. Eles formam uma engrenagem fora do comum. Muitas vezes os arranjos são modificados durante o show. Isso exige um sexto sentido aguçado para saber o que o outro pensa. É visceral demais e muito verdadeiro.
Produzi o EP da cantora e compositora Dani Zan. Uma talentosa e sensível compositora de voz doce que me caiu como presente. Nos dias que não estava em turnê com Cidade Negra, pegava o avião rumo a Curitiba para seguir com as produções. Foi uma experiência deliciosa em Curitiba. Fui muito bem recebido por todos do estúdio Gramofone. Eles me deram a condição perfeita para desenvolver um ótimo trabalho. Foi totalmente inspirador.
Neste ano organizei todo meu material, de poesias, contos e músicas também. Estou me organizando para lançar um livro com esse material. Dessas poesias, nascem músicas. Estamos aqui por conta disso. O mais louco, é que nunca fui de falar muito e de escrever muito. Mas a cada dia que passa, essa paixão virou rotina na minha vida.
Kboing: Em 2017 você lança seu álbum, não é? O que o público pode esperar dele?
Caesar: 2017 sairá meu álbum! YEAH!!! O álbum está visceral, verdadeiro e emocional. Todos os takes foram feitos quando eu estava com a energia em alta. Isso é amor. Penso que estou dando energia às pessoas que me ouvem. Penso que elas vão ser contaminadas pelo meu som e palavras. Não posso gravar algo feito sem energia pura e honesta. O carinho com meu público começa nesse momento, com as gravações. Cada take é muito importante.