Emicida 'censura' personagem de programa global

03 de outubro de 2012, 11h54, por Amanda Ramalho
Facebook Oficial

Através de sua página no Facebook, o rapper Emicida expôs sua indignação contra o personagem Adelaide, (interpretada pelo ator Rodrigo Sant'Anna) do programa humorístico "Zorra Total", da rede Globo.

De acordo com a Folha de S. Paulo, o músico não está sozinho na manifestação. ONGs e vários espectadores já denunciaram o programa à Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, alegando que o papel apresenta "estereótipos racistas".

O personagem Adelaide é uma mulher negra e pobre, que anda pelo corredor do metrô com um tablet, pedindo esmolas aos passageiros.

Confira na integra o manifesto de Emicida:

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"Voltei do jantar agora à noite e a van, dessas moderninhas que tem televisão e tudo mais, estava transmitindo ‘Zorra Total’. Já havia visto uma vez alguma manifestação, talvez através do Geledés, que aquele personagem que estereotipa a mulher negra suburbana era extremamente racista e contribuía fortemente com a desvalorização (maior ainda?!) da mulher preta em nossa sociedade ( e olha que é difícil conseguir desvalorizar mais ainda a mulher negra em nossa sociedade ).

Elas recebem menos, tem suas características físicas criminalizadas por uma ditadura eurocêntrica de beleza (isso se aplica aos homens pretos também), são abandonadas, representam uma porcentagem monstruosa das adolescentes grávidas e das mães solteiras, das que não conseguem um (bom) emprego e quando conseguem retornam cansadas ao sábado a noite para suas humildes casas para ser alvo de um quadro extremamente racista onde são humilhadas por um programa de humor (que nem engraçado é pra começar, ‘Zorra Total’ é ruim pra c****) no maior canal de televisão do país.

Estamos em um momento delicadíssimo na história do Brasil. Discute-se sobre o racismo na obra de Monteiro Lobato, cria-se um plano de prevenção a violência contra a juventude negra, porém um ataque contra a etnia que mais trabalhou por este país passa despercebido desta forma, como uma piada, o mesmo tipo de piada que foi hospedeira durante todos estes séculos da doença que é o racismo (e só o dono da dor sabe o quanto dói), em um Brasil que tornou crime o racismo (vitória!) mas conseguiu humilhar cada um dos que um dia tentaram denunciar algum caso de discriminação racial (derrota!) tornando sua própria lei, uma irônica punhalada que faz o sangue preto rico em sofrimento continuar correndo invisível por nossas ruas.

Deixo aqui meu desprezo a este 'humorista' que aproveita-se da triste situação em que esta sociedade doente colocou nossas mães/irmãs/esposas/amigas. E maior ainda é minha tristeza com nossos irmãos pretos/brancos/índios que não conseguem identificar tamanha violência racial adentrando suas casas.

Muita força às mulheres pretas, as nossas lindas mulheres pretas! Jamais se esqueçam de onde vem os diamantes mulheres pretas!
Emicida
A rua é nóiz".

Depois de levadas à 19ª Promotoria de Investigação Penal, do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, as acusações já estão sendo averiguadas.